Dizem que é melhor calar,
porque o silêncio também tem dente,
e morde menos que a língua que se atreve a falar.
foi assim que o pai ensinou,
E avó confirmou:
Che menino não fala política.
Aprendemos a andar na ponta dos pés,
como quem foge de vidro partido,
desviando do grito,
engolindo o pranto,
como se a garganta fosse prisão.
Na escola, o chão era a carteira,
a árvore, o tecto,
e a sombra, o quadro-negro da esperança.
Havia guerra de carteiras
onde o primeiro a sentar vencia o campeonato do dia.
Quem chegava tarde
fazia assento na lata vazia de leite Nido,
e sentava o sonho sobre ferro frio.
Merenda escolar? Só no discurso da rádio,
porque no prato só havia vento e poeira.
e a merenda que não chegou
foi o mesmo que o futuro que prometeram
um anúncio sem entrega.
As estradas, quando não eram poeira,
eram lama,
e quando não eram lama,
eram promessa de asfalto
que nunca saiu do papel.
Chamavam “via de circulação”
à rua que nem bicicleta queria passar,
chamavam “ponto de acesso”
ao lugar onde a água só chegava
depois de pedir visto ao rio.
E nós, com medo do medo,
não dizemos que somos miseráveis,
porque a miséria é palavrão proibido,
e a verdade é crime contra o descanso dos chefes.
Aprendemos que é mais seguro
aplaudir com fome
do que reclamar com barriga vazia.
Mas o medo também tem medo,
e treme quando o silêncio acorda.
Sofrido das Chagas
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