domingo, 10 de agosto de 2025

QUANDO SÓ RASTEJA A CORAGEM


Quando só rasteja a coragem, sem ar,

algures onde a mentira aprendeu a mandar,

quando a justiça se faz de vendada,

e a verdade morre calada na estrada.


Quando o medo cala o que o povo quer gritar,

e o sonho tropeça sem conseguir marchar,

há quem pense: “acabou, já não há salvação.”

Mas a coragem rasteja — e isso é revolução.


No corpo cansado, marcado de dor,

num lar sem pão, sem teto, sem cor,

a coragem rasteja entre as ruínas,

feita de mães, de avós, de meninas.


Ela não veste farda, não carrega arma,

mas move montanhas com sua calma.

Não precisa gritar para ser resistência,

basta não morrer — e manter a consciência.


No peito apertado, na rua vazia,

na voz que protesta mesmo em agonia,

a coragem não corre, não voa, não dança,

mas rasteja... e mantém a esperança.


Nos becos fundos da alma calada,

onde o grito se esconde e a chama apaga,

a coragem, ferida, não brada —

ela rasteja, mas nunca se acaba.


Porque mesmo caída, com medo e ferida,

a coragem insiste. E por isso... é vida.


É passo miúdo em chão de espinho,

é sopro que insiste mesmo sozinho.

Não se veste de glória ou de bandeira,

mas teima em erguer-se, rastejante e inteira.


É lágrima que escorre sem alarde,

é punho cerrado que jamais arde.

É o medo vencido por persistência,

é chama que sobrevive à ausência.


Quando só rasteja a coragem, então,

é que mais pulsa forte o coração.

Pois mesmo em ruínas, sem voz ou ar,

a coragem, em silêncio, aprende a lutar.


Sofrido das Chagas 


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